segunda-feira, 22 de junho de 2009

Reencontro.




“Queria te dizer que hoje estou de bem com a vida
Que não senti nada com sua partida
Mas com um só dedo não se tapa o sol..”
(A dor desse amor)

Há semanas penso em você. Assim sem querer, como quem comeu um doce e fica se lembrando do gosto. Não para se torturar, mas para tentar sentir aquela paz, aquela satisfação de um dia. Pensei em você pra tentar lembrar mesmo que você existiu. 4 meses e meio se passaram e parece que foi em outra vida.
Lembrei das nossas viagens, de como conseguia me fazer sorrir, de como sempre atendia aos meus dengos e me mimava horrores. De como era confortável ter você. A qualquer hora, em qualquer lugar. Lembrei do teu cuidado, da tua atenção, da tua simpatia. Lembrei dos teus planos para uma casa nos moldes antigos, do teu desejo por filhos, da tua festa de casamento para poucos. E ri. Eu aceitava tuas vontades mesmo sem serem as minhas. Eu ia seguindo-te como o dono que segue o cão.

Então, juro que tentei não pensar, mas foi inevitável. Me lembrei de como tudo terminou. Me lembrei da facilidade e da frieza que você teve para chegar na porta da minha casa, no dia da festa do meu aniversário e me dizer adeus. Assim, seco, sem uma lágrima nos olhos. Lembrei de como eu gritei te implorando pra não me deixar aqui sozinha, de como você me olhou pelo retrovisor sem piedade, de como eu chorei quando fui na tua casa buscar as minhas coisas. Lembrei dos quilos que emagreci, do carnaval que eu perdi, dos amigos que se foram. Mas logo me esqueci. Pra te esquecer eu apaguei tudo. Esqueci-me do teu cheiro, do teu gosto, do teu prazer. Perdi seu telefone, seu e-mail. Apaguei nossas fotos (deixe-as bem escondidas), apaguei nosso amor. Como quem acende e rapidamente assopra um fósforo. Era humilhação demais continuar sofrendo por você.
Te apaguei tão rápido que, hoje vejo, não foi tempo o bastante para te tirar do meu coração. Porque passar esses meses sem te ver foi fácil. Mal sabia eu que o difícil seria te encarar. Te olhar de frente, sentir seu abraço sem bambear.

Parece que meus anjos vieram me alertando nessas últimas semanas. Me preparando. Por isso você voltou aos meus pensamentos, revi nossas fotos sem chorar, ouvi nossas músicas sem sofrer. Eu me permiti falar de você, sentir você. Me permiti olhar o teu orkut. Uma, duas, três vezes. Até descobri a monstra com a qual você parece ter um novo affair. Descobri que você está se permitindo amar de novo. E fiquei feliz por isso. Feliz por você, feliz por mim. Desejei que se casasse logo e realizasse tanto o teu sonho.

Descobri músicas que lembram o nosso fim. Músicas que me fizeram cantar de novo. O cantar é sempre mais bonito quando se está triste.

Meu Deus. Algo me dizia que seria hoje. Que hoje seria o nosso reencontro. Ninguém quis acreditar quando eu disse que estava sentindo isso. Estava sentindo que hoje era o dia. Tomei banho, demorei horas escolhendo a roupa mais bonita. E fiquei nervosa, ansiosa, com dor de barriga. Eu juro que não sabia que hoje seria tua palestra. Mas quando eu pisei no salão e te vi lá na frente só tive tempo de falar para minha mãe (que já se desesperava imaginando a minha dor): "eu disse".
Procurei o canto mais escondido e sentei trêmula da cabeça aos pés. Sem ar, sem chão. Fui premiada. Tua mãe faria a abertura e você a palestra. O tema “Buscando equilíbrio e harmonia”.
Você falava sobre como o amor é capaz de superar nossa mágoa, nossas dores. De como ele é a nossa cura e a nossa doença. Você me deixou porque estava doente e não foi capaz de se curar. Será então meu amor assim tão ruim que só faz machucar e não seca cicatrizes?
Disse ainda sobre quando nos desviamos de nossa estrada, de como é difícil encontrar a luz e retornar ao caminho. Por vezes a minha estrada foi você. O meu rumo, o meu norte, o meu porto seguro. Mas você nunca temeu me perder quando me fez perder os sentidos, a direção. Você arriscou a me perder. E eu te perdi.
Questionou a força estranha que faz com que os aviões decolem. Descobriu que eles só saem do chão porque enfrentam as ventanias que batem de frente e superam a gravidade. Com força, coragem e persistência. Tudo que você não teve. Hoje você descobriu que é preciso enfrentar as ventanias e não fugir delas e abrir mão de tudo que você já tinha. Hoje você aprendeu que o amor é o guia maior, e o amor de Deus eu digo, porque Ele sim nunca te abandonará.
Mas decorar uma porção de palavras bonitas e filosofar sobre a vida é fácil. O difícil é assumir os erros, é superá-los, é pedir perdão e se perdoar. É estar pronto pra se molhar se chover ou se desmanchar com o sol.

Cara, quer saber? Eu solucei a palestra toda, me perdi ao te encontrar. Perdi o ar, o chão, e não como quem está apaixonada mas como quem sofre.
E eu descobri que você ainda me faz sofrer. Meu corpo sem querer pareceu sentir que você me faz mal, e reagiu a isso. Chorou do seu modo menos contido e mais dolorido. Um choro silencioso, que machuca todos os poros do corpo.
Você ainda me surpreende. Vem cumprimentar, puxar papo. Como quem admira o espetáculo a sua frente. É bonito me ver chorar? Te faz bem me fazer sofrer? Pois então desfrute. Foi a primeira e última vez. O que eu puder fazer, o quanto eu puder orar, para não te encontrar eu vou fazer.
Me acostumei em encarar a dor, a solidão, a insegurança e todos esses sentimentos ruins, mas ainda não aprendi a encarar você.

E agora não me mande e-mail lamentando ter me feito chorar. Eu chorei por mim. Por ter me permitido tanto. Ter me permitido ir tão longe. Lamentei por mim. Não porque te perdi. Por você, eu só lamento que me perdeu...

Fui embora, mal me despedi. Cinco minutos e já era minha vida outra vez. Feliz, sem lágrimas, sem você e com um novo amor!

"..Por isso Deus me livre eu tenho medo de voltar
Me fez sofrer demais
mas te olhando eu fico louca
Por isso Deus me livre de encarar você de novo..
não dá pra ficar cara a cara
Eu quero esquecer mas se vejo você
coração dispara
Por isso não quero te ouvir nem te olhar
melhor continuar como estamos
Não posso voltar
Deus me livre te amar..”
(Deus me livre)

(20 de junho de 2009)

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