Fechando e abrindo portas

“Agente pode xingar,

amaldiçoar o mundo.

Mas quando chega ao fim,

Temos só que aceitar e ponto.”

(“Os mistérios de Benjamim Button”)

Pontos finais. Recomeço.

É, a vida dá sinais de que é preciso terminar etapas, para começar outras. Não dá pra simplesmente viver todas ao mesmo tempo. Não quando se tratam da mesma coisa. Como quando a semente tem que morrer para dar lugar a flor.

Eu confesso: o amor sempre foi delicado pra mim. Esse negócio de banalização do amor, pessoas descartáveis, não é comigo. Apego-me fácil, me envolvo fácil e tenho uma extrema dificuldade com términos. Não consigo aceitar o fim das coisas, ver um amor como um estranho, como se nunca tivesse sido nada pra mim. Pior ainda quando é como um chocolate branco, quando você acaba de comer fica aquele gostinho de quero mais, e ai simplesmente acabou, você já acabou com suas economias para comprá-lo, já deu tudo de si. Tem que aceitar que acabou e pronto. Choro, me desespero. Posso até nem ter gostado tanto daquela pessoa, mas saber que ela não fará mais parte da minha vida já tendo feito parte da minha história é como me matar um pouco. Digo isso tanto com amizades como com namorados.

Mas ainda acho que com namorados é um pouco mais difícil. Você se entrega, se envolve, divide a sua vida. Faz loucuras, conta segredos e fantasias. Se abre, se mostra. Conhece a família, ganha uma família. E no fim, não sobra nada. Ele vai embora sem você conseguir nem ao menos dizer “foi bom, adeus” de tanto que soluçava. E você não vai esquecê-lo, acredite. Você vai sofrer, xingá-lo, odiar Deus por tê-lo colocado na sua vida e se arrepender do dia em que o conheceu. Mas nada minha querida, nada, vai adiantar enquanto você não decidir seguir em frente e querer isso. E para seguir em frente você vai ter que digerir todos os mil sentimentos dentro de você, rever tudo que aconteceu, os erros que cometeu e os acertos.. Essa parte não é fácil, porque revivendo tudo é como se você re-sentisse tudo outra vez, mas sabendo que nunca mais terá aquelas sensações, pelo menos não daquele jeito, com aquela pessoa.

Essa fase eu superei. Mas alguns momentos, às vezes, ainda passam pela minha cabeça, como um filme com alguns cortes que a memória barrou. Eu aprendi que não vou esquecer meus amores de antes, vou guardá-los sempre comigo, mas não vou sofrer mais por não tê-los. De alguma forma eles me ajudaram a chegar onde estou agora, a ser como sou, então tenho que agradecer. Tenho que me perdoar por tê-los feito sofrer algum dia e perdoá-los por terem me feito sofrer também. Da vida eu só quero levar as coisas boas.

Por isso eu decidi seguir em frente. Mesmo sabendo que para isso terei que abrir mão de algumas coisas, de algumas dores, alguma esperanças e até mesmo de um pouco de amor que vai ter que ficar para trás, na minha história, mas no passado. Só assim para poder me entregar a outro amor. Nenhuma lágrima me tirou o sonho de amar, casar e ter filhos.

É hora de abrir a porta, já que a janela se fechou.

“[...]
Antes de começar um capítulo novo é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou jamais voltará! Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade. Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante. Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida.

Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era e se transforme em quem é. Torne-se uma pessoa melhor e assegure-se de que se conhece de verdade, antes de encontrar alguém e de esperar que ele veja quem você é.”

Trecho de "Encerrando Ciclos" de Paulo Coelho