sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

. Amor de praia .




Acordei e me vi vazia de você. Depois de uma madrugada dirigindo e me deixando a beira da loucura por ficar tanto tempo longe dos teus abraços, tudo o que eu mais queria era uma noite de sono tranqüilo ao seu lado como todas as últimas três. Depois de um final de ano maravilhoso e um começo pulando ondas com você, hoje eu tenho que me contentar em ouvir as músicas que marcaram e te buscar na blusa que ficou comigo, no ipod e no colírio que você esqueceu na minha bolsa.
Por tantos dias eu quase morri de carência, por tantos dias eu quis um colo quente para dormir, um beijo doce para me acordar e uma voz suave para cantar as músicas em inglês que eu tanto gosto no meu ouvido. E por cinco dias tive você... No começo achei que a viagem seria mais uma cilada e me deixaria ainda mais deprimida. Achei você cuidadoso demais, legal demais, risonho demais, fofo demais, engraçado demais e com brilho nos olhos azuis demais. E cansada de ter tanto, de tentar tanto, eu pensava no que uma amiga havia me dito. “Goste menos, queira menos”. Então você era mais do que eu podia. Era tudo que eu não devia querer. Mas já que isso de “querer não é poder” nem sempre dá certo, eu logo me vi ganhando cócegas, rindo e de repente, pronto, eu estava em você. Um beijo quente, numa noite cheia de brisa com cheiro de mar, a lua cheia iluminando tudo. E mesmo a gente perdendo no truco, você foi uma boa dupla, mesmo eu não sabendo os sinais, eu nunca sei...


Meia-noite do ano novo. Você me abraça como quem não sabe se deveria. Abre a garrafa de champagne com as nossas tacinhas de plástico e por um segundo eu me sinto realizada. Você pulou tuas sete ondas comigo, e de repente nada fazia sentido. Eu não sei o que você pediu, mas me vi feito boba te olhando rir quando uma onda se aproximava. E mais boba ainda quando me beijou como se teu pedido tivesse sido atendido.

E mesmo um pouco bêbado na balada, você pareceu tão sincero quando disse o quanto sou linda, o quanto é fácil ficar “gostandinho”, o quanto tem medo e não sabia se podia ter ciúmes de mim. Pareceu tão sincero quando disse que minha voz é bonita e que eu fico ainda mais bonita quando me arrumo para você. Tão sincero que me deu medo acreditar ou dizer algo em troca e eu apenas agradeci.

Hoje eu sinto falta da necessidade doentia em escovar os dentes logo após comer para poder te beijar, sinto falta do imã inexplicável que nossas mãos tinham e em como você se esforçava para carregar o que fosse com uma mão, para a outra ser minha e em como se incomodava se eu a soltava para qualquer coisa, mesmo que para prender o cabelo.

Eu lembro do sorriso que surgiu quando você beijou minha barriga na praia, pelo modo como isso foi carinhoso e gentil e me fez perder toda vergonha de aparecer de biquini. De como você não sabia como se aproximar dentro do mar, com tantas ondas quebrando em nós dois e de como ficou aliviado ao me ter no colo e poder me dar abraços e beijos salgados.
Lembro também do ciúmes que fez despertar em algum lugar aqui dentro, de como eu queria te ter só para mim e de como qualquer coisa que desviasse sua atenção de nós dois me incomodava.
Lembro do quanto foi forte a tristeza que me bateu quando você disse que era um amor de praia e eu logo lembrei daquela música do Jammil que diz “amor de praia não sobe serra”, e de como mais rápido ainda te perdoei ao ouvir você cantar “back to you” pra me fazer dormir.

Adoro o jeito como você parecia precisar de mim, como vinha parecendo um gatinho se aninhando no meu peito. Como sem porquês me olhava e sem querer sorria.. Como isso era simples, tão bom e iluminado...

De tanto lembrar e adorar você, me vi como aquelas crianças que se perdem em seus pensamentos tentando alcançar de alguma forma aquilo que elas ainda não podem tocar.. De tanto pensar e querer tocar e imaginar e te desejar me permiti sonhar. Com o corpo pesado de quem está cansado de começar, mas com a esperança verde de quem não desiste de tentar continuar...

“Me mata constatar como é ridículo ficar com saudade só de você ir tomar banho.
[...]

Me perdoe pelos meus mil anos à frente dos nossos segundos e pela saudade melancólica que eu senti o tempo todo mesmo sendo nossos primeiros momentos.”
(Tati Bernardi)

Um comentário:

  1. "Com o corpo pesado de quem está cansado de começar, mas com a esperança verde de quem não desiste de tentar continuar..."

    eu acho realmente que todo começo deveria começar do terceiro encontro... meu coração nao aguenta estas sensações de nao saber, de nao ter certeza...
    o inferno viu!

    lindo texto...ate vejo as cenas ahhauuhuhahuuha

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